No dia 18 de outubro de 2024, no pequeno povoado de Serra dos Correias, município de Heliópolis (Bahia), localizado a 340 km de Salvador, ocorreu uma tragédia: quatro estudantes, com idades entre 14 e 15 anos, perderam a vida. O incidente aconteceu na Escola Dom Pedro I, uma das instituições assistidas pela Liga do Bem, por meio de projetos de capacitação de professores, implantação de brinquedotecas e ações em saúde promovidas anualmente pela ONG.

Esse povoado fica próximo à comunidade das Valérias, o primeiro local assistido pela Liga em Heliópolis. Em 2020, a ONG, em parceria com outras instituições, construiu a primeira biblioteca da região — fruto do sonho de um homem analfabeto. Desde então, a biblioteca vem sendo abastecida e mantida por meio de caravanas, possibilitando a ampliação de seus horizontes, promovendo o acesso à leitura de diversos títulos e fomentando encontros culturais enriquecedores entre as comunidades.

A biblioteca é administrada por um grupo de estudantes da comunidade, responsáveis pela sua rotina. Para tristeza de todos os voluntários, uma dessas jovens também foi vítima da tragédia.

A Liga do Bem, em conjunto com o Instituto Pró-Bem, iniciou imediatamente um programa de atendimento psicológico às famílias das vítimas, aos alunos da escola e a toda a comunidade escolar da Dom Pedro I. Vinte e sete psicólogos realizaram atendimentos voluntários a distância, além de promoverem rodas de conversa na escola e nas comunidades, com visitas frequentes de voluntários em pequenos grupos. Essas ações contribuíram significativamente para o retorno às rotinas pedagógicas e para o processo de luto das famílias.

Entre os dias 24 e 27 de abril deste ano, foi realizada a primeira Caravana para Heliópolis após a tragédia. As Caravanas no Sertão são uma das principais ações da ONG, com o objetivo de levar capacitação ao corpo docente das escolas municipais; implantar e manter brinquedotecas; construir bibliotecas, cozinhas comunitárias e outras estruturas para o fortalecimento das comunidades; além de oferecer treinamento e insumos para o empreendedorismo local. Também são realizados atendimentos jurídicos e ações pontuais em saúde, com consultas médicas, terapêuticas, fisioterapêuticas, psicológicas e odontológicas, incluindo a distribuição de medicamentos e cestas básicas para a população mais vulnerável.

Esta caravana teve dois grandes desafios: o primeiro foi ampliar as ações para o povoado de Cajazeiras, que recebeu uma nova brinquedoteca e teve acesso a todos os serviços da Caravana. O segundo, e maior desafio, foi retornar em um grupo mais numeroso à comunidade ainda abalada pela perda prematura e traumática de quatro jovens, com a missão de ressignificar a sala de aula onde tudo aconteceu.

Após o ocorrido, muitos pais se recusavam a enviar seus filhos de volta à Escola Dom Pedro I, e os próprios alunos demonstravam relutância em retornar. Em determinado momento, cogitou-se a demolição da escola e sua reconstrução em outro local. No entanto, a ideia não seguiu adiante. A nova direção decidiu então transferir a brinquedoteca para a sala da tragédia, e utilizar o espaço da antiga brinquedoteca como sala de aula para a turma afetada.

No sábado, 26 de abril, a escola voltou a ser preenchida por esperança. Foram realizados atendimentos em saúde, capacitações em empreendedorismo e sessões de apoio psicológico individual e em grupo. Enquanto isso, outro grupo de voluntários se dedicava à transformação da sala de aula marcada pela dor em um espaço de vida. Aos poucos, a Escola Dom Pedro I foi tomada por um clima de alegria. Famílias inteiras participaram dos atendimentos, das palestras e das ações terapêuticas. Crianças brincavam nos corredores e no parquinho, enchendo o espaço de gargalhadas e vida.

Enquanto isso, a equipe de voluntários responsável pelas obras fechava os buracos de projéteis ainda visíveis e cobria com tinta as manchas de sangue que permaneciam nas paredes. Durante esse processo, duas mães recém-enlutadas entraram pela primeira vez na sala desde o ocorrido. Aos poucos, outros alunos, amigos e parentes das vítimas também se aproximaram e participaram desse momento de transformação.

Ao final, a sala de aula deu lugar a uma brinquedoteca colorida e vibrante, com destaque para uma grande árvore da vida, com caule robusto e folhas frondosas formadas pelas mãos coloridas dos voluntários, funcionários da escola, familiares das vítimas, alunos e amigos da instituição.

Fomos testemunhas da ressignificação de um espaço e da extraordinária capacidade humana de colaborar de forma solidária e amorosa na superação de uma dor coletiva.

Essa é apenas a primeira de muitas histórias que testemunharemos na recente parceria firmada entre a AXXO Construtora e a Liga do Bem. Parte do programa social ESG da AXXO, o acordo de cooperação foi firmado com apoio financeiro e com o compromisso de proporcionar aos colaboradores da empresa a oportunidade de também fazerem parte desse movimento de transformação social — demonstrando que essas ações não são iniciativas isoladas, mas sim parte de uma mudança cultural profunda da empresa, alinhada à construção de uma sociedade mais justa.

Nesta última ação, participaram ativamente as colaboradoras Alessandra Coelho (Técnica de Segurança) e Eliana Vilas (Assistente de Setor Pessoal), que trouxeram relatos emocionantes sobre o quanto foram positivamente impactadas pela experiência.